O testamento vital é um documento onde você registra, antecipadamente, suas preferências sobre tratamentos médicos para situações em que, no futuro, você não esteja em condições de tomar decisões por conta própria. Ele serve para que você tenha voz, mesmo quando não puder falar por si.
Mas, por se tratar de um documento com implicações éticas e legais, existem limites sobre o que pode ou não ser escrito. A ideia aqui é garantir que suas vontades sejam respeitadas dentro do que a lei permite e dentro dos padrões éticos da medicina.
Posso escrever qualquer coisa em um testamento vital?
Se você está aqui procurando a resposta para essa pergunta, eu imagino que você é uma pessoa que valoriza sua autonomia e tem o desejo de garantir que suas vontades sejam respeitadas, mesmo em momentos difíceis. Pensar em algo como o testamento vital é um gesto de cuidado e responsabilidade, tanto com você quanto com quem você ama. Porém, ao mesmo tempo, é normal ter dúvidas sobre o que pode ou não ser incluído nesse documento. Afinal, estamos falando de decisões delicadas e muito pessoais.
A resposta curta é: não, você não pode escrever qualquer coisa em um testamento vital, mas você pode (e deve) usar esse documento para deixar claro o que é realmente importante para você em relação aos seus cuidados médicos e à sua dignidade no futuro. Vamos explorar isso juntos, de forma clara e sem complicações.
O que você pode incluir em um testamento vital?
Pense no testamento vital como uma espécie de carta de instruções para médicos e familiares sobre como você gostaria de ser tratado em situações críticas. Aqui estão algumas coisas que você pode incluir:
1. Recusa de tratamentos específicos:
Você pode indicar que não deseja ser submetido a tratamentos invasivos ou prolongar a vida artificialmente em caso de doenças terminais ou irreversíveis. Por exemplo:
– “Não desejo ser mantido vivo por aparelhos caso minha condição seja irreversível.”
– “Prefiro não receber manobras de ressuscitação cardiopulmonar em caso de parada cardíaca.”
2. Preferência por cuidados paliativos:
Você pode expressar que prefere receber cuidados que priorizem o conforto e o alívio da dor, caso não haja esperança de cura. Por exemplo:
– “Quero que o foco seja o controle da dor e o meu bem-estar, mesmo que isso acelere o processo natural da morte.”
3. Escolha de um representante:
Você pode nomear uma pessoa de confiança para tomar decisões por você, caso seja necessário. Essa pessoa será seu “porta-voz” diante dos médicos e da equipe de saúde.
4. Limites éticos e religiosos:
Se você tem crenças ou valores que influenciam suas decisões médicas, pode mencioná-los. Por exemplo:
– “Por motivos religiosos, não autorizo transfusões de sangue.”
– “Quero que minha espiritualidade seja respeitada ao longo do tratamento.”
Mas então, o que não pode ser incluído?
Apesar de ser um documento que reflete sua autonomia, o testamento vital não pode incluir exigências que violem a lei ou os princípios éticos da medicina. Aqui estão alguns exemplos do que não pode ser escrito:
1. Pedidos que envolvam práticas ilegais no Brasil:
No Brasil, a eutanásia (ato de provocar intencionalmente a morte para aliviar o sofrimento) é proibida por lei. Então, você não pode, por exemplo, escrever algo como:
– “Quero que minha vida seja interrompida se estiver em estado terminal.”
No entanto, você pode expressar que não deseja tratamentos que prolonguem artificialmente a vida, que é algo diferente e permitido.
2. Exigências que contrariem o dever ético dos médicos:
Médicos têm a obrigação de agir dentro dos limites da ética profissional. Isso significa que você não pode exigir tratamentos que sejam considerados desnecessários, fúteis ou que coloquem a equipe médica em situações de conflito ético.
3. Decisões sobre bens ou heranças:
O testamento vital não é o lugar para tratar de questões patrimoniais ou sucessórias. Isso deve ser feito em um testamento tradicional, que tem outro formato e objetivo.
Por que é importante ter orientação ao fazer um testamento vital?
O testamento vital é um documento poderoso, mas, para que ele seja respeitado, precisa ser claro, bem redigido e juridicamente válido. Uma orientação profissional garante que suas vontades sejam expressas de forma precisa e que o documento esteja alinhado com a lei.
Quero compartilhar um exemplo que pode te ajudar a entender a importância disso. Dona Helena queria fazer um testamento vital porque havia passado por uma situação traumática na família: sua mãe ficou meses em uma UTI, recebendo tratamentos invasivos que não traziam qualidade de vida. Dona Helena me procurou dizendo: “Eu quero evitar isso para mim, mas não sei como escrever”.
Dona Helena pode conversar com uma advogada especialzada para esclarecer todas as suas dúvidas sobre o que poderia ou não ser incluído no documento. Numa próxima etapa, trabalhariam juntas para criar um testamento vital que refletisse suas vontades de forma clara e ética, de forma que sua família não precise sofrer tentando adivinhar o que ela gostaria que fosse feito numa situação em que pudesse tomar decisões por conta própria.
Se você está pensando em fazer um testamento vital, aqui os passos que você pode seguir para elaborar um:
1. Contatar uma advogada especializada para que ela entenda suas vontades: Primeiro, encontre uma advogada(o) especializada(o) para conversar para que ela entenda seus valores, crenças e preocupações. Essa etapa é essencial para garantir que o documento reflita exatamente o que você deseja.
2. Redigir o documento com clareza: A(o) advogada(o) estrutura o testamento vital de forma que ele seja claro, objetivo e juridicamente válido. Isso inclui garantir que ele esteja em conformidade com a lei e com os princípios éticos da medicina.
3. Registrar e orientar: Embora o registro em cartório não seja obrigatório, ele é altamente recomendado para dar segurança jurídica ao documento. Além disso, a(o) advogada(o) deve te orientar sobre como compartilhar o testamento vital com seus familiares e médicos, para que ele seja respeitado quando necessário.
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